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Como desconhecidos , porém bem conhecidos ; como morrendo , porém vivemos ; como castigados , porém não mortos ; Como entristecidos , porém sempre alegres ; pobres, mas enriquecendo a muitos ; nada tendo , mas possuindo tudo.

Evangelho de : Paulo



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Como me tornei um louco?




Perguntais-me como me tornei louco.Perguntais-me como me tornei louco.



Aconteceu assim:



um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:



"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"



Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:



- "É um louco!"



Olhei para cima para vê-lo.



O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei:



"Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"



Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.





Autor: Gibran Khalil Gibran

 



segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A verdade do mundo



Verdade seja dita: neste mundo, a verdade não é dita.

Nelson Jonas

Quarenta anos no deserto





É impossível para mente repleta de conhecimento, conhecimento este adquirido em árdua e por vezes solitária caminhada por quarenta anos de deserto, por si mesma fazer com que as ácidas águas do Mar Vermelho da razão e do intelecto se abram diante de seus olhos apresentando uma direção e um terreno nunca antes imaginado. Para esta mente que chega no beco sem saída da lógica, só se apresenta, por um lado, este ácido mar da razão, e por outra lado, o antigo deserto, tendo bem próximo de si a possibilidade do eminente ataque do enorme exército a serviço do império do pensamento condicionado, exército este, que luta para manter esta mente cativa neste imenso deserto do intelectualismo.
Neste difícil momento da caminhada, não é nada fácil "acreditar" naquele que mantém a "fé" e que de braços erguidos aponta para uma direção contrária, para uma direção que não tem como única opção se permitir a um novo confronto com o imenso e poderoso exército do império do pensamento condicionado. O mais natural para esta mente, ao invés de uma aberta escuta atenta, é se manter em confronto com esses tais "místicos", com esses homens de "fé", com esses homens de "crença". Isso é bastante natural para quem se vê prisioneiro em meio ao deserto, faminto e sedento prisioneiro, exausto por carregar em sua mochila, a desnecessária carga de conhecimento adquirida em seu passado, passado este no qual se viu identificado por anos e anos com uma imagem auto-criada que não tem nada a ver com sua real natureza. Essa imagem irreal por qual o buscador solitário se viu identificado por anos e anos é o que o manteve feito prisioneiro por anos, a puxar imensos blocos de pedras, blocos de pedras que serviam tão somente para a edificação das enormes torres separatistas do condicionamento humano. Para muitas destas mentes, foram precisos anos e anos de chibatadas, anos e mais anos pisando no barro desse sistema de crença que sempre produziu fome sede, anos e anos de desidratação sobre os fortes raios solares do intelecto e da razão. Aqui, apesar desta mente não se aperceber, a Graça já se fez manifesta, se fez manifesta por meio de uma rebeldia inteligente, rebeldia esta que faz com que esta mente faça um movimento em direção a liberdade, mesmo que esta liberdade implique no ostracismo que aponta para o deserto do real.
Não é fácil abrir mão de todo conhecido, de todo acervo de memórias, imagens e conhecimento para se aventurar nesta caminhada solitária em direção a verdadeira liberdade do espírito humano. Em meu caso, foram necessários 47 anos de deserto, um deserto formado por uma mente iluminada pela razão, pela lógica, num corpo totalmente desidratado por não ter em si um coração que é um poço de água de amor. Durante meu deserto, fui acolhido na tenda de um "pastor de homens", pastor este a quem sou profundamente grato e cujo nome é Jiddu Krishnamurti. Ao contrário do que muitos dizem, não posso responsabilizar Krishnamurti, pelo estado ácido de minha mente, pelo estado ácido com que, ao contrário de sua mensagem, eu vivia a me relacionar com as pessoas formando um novo tipo de imagem, uma imagem fundamentada nos conceitos que minha mente formulou em cima dos escritos de Krishnamurti. Sem que eu percebesse, ao invés de observar de forma livre, sem a criação de imagens, ao invés de observar o "Monte de Sinais" que Krishnamurti apontava, sinais estes que sempre apontavam na direção de um coração amoroso e abarcante, eu ainda me mantinha viciado naquele olhar de prisioneiro, prisioneiro do que me era conhecido. Foram necessários 8 anos de estudos na tenda deste pastor. Todos os meus contatos sofriam com meu olhar, que na realidade, era um olhar sempre destorcido pela acides de meu conhecimento, pela dureza de minha medição, medição esta acompanhada de uma disfarçada soberba, pela qual, com uma rapidez fora do comum, rotulava a todos que não se enquadravam nas imagens que eu fazia sobre o que seria o modo correto de ser e estar na vida. Ainda como prisioneiro, sem saber o real significado das palavras felicidade e liberdade, eu vivia a criticar, a rotular, a tecer comentários desamorosos a respeito de todos aqueles que não se comportavam conforme a minha solitária e insatisfatória cartilha. Neste período, a única coisa que consegui com tal comportamento na vida de relação, foi me manter neste deserto separatista do conhecimento intelectual. Não tinha como ser diferente a minha reação diante da idéia da possibilidade de um Deus, afinal, eu já tinha o meu Deus, que era o Deus da minha limitada razão, do meu limitado e separatista intelecto humano.
Sou um dos abençoados por ter encontrado um homem que, ao não me revidar com resistência, amorosamente abriu o mar vermelho dos meus hemisférios cerebrais, que abriu um novo caminho até então nunca imaginado, um caminho que só aqueles que não são prisioneiros do intelecto podem por ele atravessar em direção a um novo solo firme, o solo firme e seguro da autonomia e autenticidade psicológica, onde o grande alimento é o maná diário da percepção amorosa. Para as mentes que se mantém firmes nesta observação, nesta constatação amorosa, que se dá momento a momento, não mais se faz necessário a criação e adoração das "imagens de ouro dos insensatos", imagens estas criadas pela memória da antiga e irreal segurança do passado conhecido de lutas pela razão, lutas estas, sempre travadas com as limitadas armas do intelecto. Neste momento é pela firmeza da paixão que conhecemos um solo sagrado onde transborda o leite e o mel do amor e da compaixão.
Aqui fica meu humilde e amoroso convite à todo aquele que estiver exausto por tanto caminhar neste deserto do real, sob o forte sol da lógica e da razão: ouse um olhar para o desconhecido, ouse largar ao solo sua pesada mochila de conhecimentos. Novas possibilidades estão bem próximas de se fazerem realidade. Ouse, e muito mais lhe será revelado. Ouse, pela descoberta de sua Real Natureza.
Nelson Jonas R. de Oliveira

sábado, 3 de setembro de 2011

Constatações sobre a água do Ser




A água mole e doce do Ser
Num ego com sua estrutura
Tanto bate até que cura.

Papo coração





Quando nos expressamos com inteiro despojamento de interesses pessoais e quando ocorre igual postura por parte de quem nos ouve, a comunicação atinge níveis de intercâmbio inimagináveis.
            Aos autores desta façanha – façanha sim, pois esta é uma comunicação altamente qualificada e muitíssimo rara nos dias de hoje – fica um saboroso estado de quietude.

Reflexo de toda a vida





No Oriente, nós observamos a experiência de morte das pessoas. O modo como morrem reflete toda a vida delas e o modo como viveram.

Eu só preciso assistir à sua morte para poder escrever toda a sua biografia — porque, nesse momento, toda a sua vida está condensada. Nesse único momento, com um lampejo, você mostra tudo.

Uma pessoa infeliz morrerá com os punhos apertados — ainda segurando e agarrando, ainda tentando não morrer e não relaxar.

Uma pessoa amorosa morrerá com as mãos abertas, compartilhando... compartilhando a sua morte assim como compartilhou a vida. Você pode ver tudo escrito no rosto da pessoa como se ela tivesse vivido a vida totalmente alerta e consciente.

Se ela viveu, então em seu rosto haverá um brilho luminoso; em torno do seu corpo haverá uma aura. Você chega perto dela e sente o silêncio — não tristeza, mas silêncio. Se a pessoa morreu feliz e em total orgasmo, acontece até de você de repente se sentir feliz perto dela.

Isso aconteceu na minha infância; uma pessoa muito virtuosa morreu na minha aldeia. Eu era meio apegado a ela. Tratava-se do sacerdote de um pequeno templo, um homem muito pobre. Sempre que eu passava — e eu costumava passar lá duas vezes por dia; quando estava indo para a escola, que era perto do templo, eu passava — ele me chamava e sempre me dava uma fruta ou um doce.

Quando ele morreu, eu fui a única criança a ir vê-lo. Toda a cidade se reuniu. De repente eu não pude acreditar no que aconteceu — eu comecei a rir! Meu pai estava presente e tentou me fazer parar, porque ficou constrangido. A morte não é hora de rir. Ele tentou tapar a minha boca. Disse-me várias vezes para ficar quieto.

Eu nunca mais senti essa vontade outra vez. Desde então eu nunca mais a senti; nunca antes havia sentido — rir tão alto, como se algo belo tivesse acontecido. Eu não consegui me segurar; eu ri alto.

Todo mundo ficou zangado e me mandaram para casa. Meu pai me disse: "Nunca mais deixarei que você participe de nenhuma ocasião séria! Por causa de você eu estava até ficando constrangido. Por que estava rindo? O que aconteceu? O que há na morte para rir? Todo mundo estava chorando e se lamentando e você estava rindo!"

Eu disse a ele: "Algo aconteceu... o velho liberou algo que foi extremamente bonito. Ele morreu uma morte orgásmica". Não foram exatamente com essas palavras, mas eu disse ao meu pai que eu sentia que o sacerdote estava muito feliz morrendo, muito alegre e queria que rissem com ele. Ele estava rindo, a energia dele estava rindo.

Pensaram que eu estava louco. Como um homem pode morrer rindo? Desde então eu tenho observado muitas mortes e nunca mais vi nenhuma morte desse tipo.

Quando morre, você libera a sua energia e, com ela, a experiência de toda a sua vida. Seja como for que você tenha sido — triste, feliz, amoroso, raivoso, apaixonado, compassivo, seja o que for que tenha sido — essa energia carrega as vibrações de toda a sua vida.

Sempre que um santo morre, próximo a ele há uma grande dádiva; só o fato de ser banhado por essa energia já é uma grande inspiração. Você é transportado para uma dimensão completamente diferente. Você ficará entorpecido por essa energia e se sentirá inebriado.

A morte pode ser uma completa realização, mas isso só será possível se a vida foi vivida.

Osho, em "O Livro do Viver e do Morrer: Celebre a Vida e Também a Morte"

Da servidão moderna




A primeira razão pela qual os homens servem com boa vontade é porque nascem servos e como tal são criados... Como é que o chefe ousaria pular em cima de vós, se vós não estivésseis de acordo?
Étienne de la Boérie

Todos os homens, de todos os tempos, e ainda hoje, dividem-se entre escravos e livres, porque quem não dispõe de dois terços do próprio dia é um escravo., não importa o que seja de resto: homem de Estado, comerciante, funcionário ou estudioso.
                                                                                                               
                                                                                                                Fredric Nietzsche


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Camisa de Venus - O Adventista




Eu acredito no bem e no mal
Eu acredito no imposto predial
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito nos livros da estante
Eu acredito em Flávio Cavalcante
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito no seu ponto de vista
Eu acredito no partido trabalhista
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito em toda essa cascata
Eu acredito no beijo do papa
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
eu acredito em quem anda com fé
Eu acredito em Xuxa e em Pelé
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito na escada pro sucesso
Eu acredito na ordem e no progresso
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito que o amor atrai
Eu acredito em mamãe e papai
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito no Cristo que padece
Eu acredito no INPS
Eu acredito, eu acredito
Não vai haver amor neste mundo nunca mais
Eu acredito no milagre que não vem
Eu acredito nos homens de bem
Eu acredito, eu acredito
Eu acredito nas boas intenções
Mais este papo ja encheu os meus culhões
Eu não acredito, eu não acredito


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O êxtase da singularidade




Totalmente livre dos desnecessários adornos, observa a alienante euforia alheia. Afina as cordas, apruma o compasso e, em holística carreira solo - visivelmente expressa nas gotas de suor de seus poros -, se mantém fiel ao próprio ritmo. Distribuindo acordes aos poucos ouvidos sensíveis à qualidade de sua ânima, nesse imenso Blues Etílico que é o viver, experiencia o êxtase de sua singularidade. Ao artista originalmente criativo cabe a expressão maior do que é ser uno com a Vida em excelência.



Nelson Jonas

(escrito em enquanto assistia fantástico solo de Otávio Rocha, no Sesc Pompéia, no Show de comemoração dos 25 anos do Grupo Blues Etílicos)
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O povo não precisa de liderança, o povo precisa de consciência e tem muita gente fazendo esse trabalho, acadêmicos e não acadêmicos. Eu sei porque eu trabalho em favela muitas vezes e sei que tem muito movimento cultural rolando. Tem muito trabalho de base acontecendo. Ele não aparece e é bom que não apareça, porque se aparecer, o sistema vai lá pra acabar com aquilo. ( Eduardo Marinho )