16h12m de um dia nublado de outono. Bate o
vazio e com ele uma vontade de fazer sem o saber o que. É uma ânsia pelo
desconhecido, uma vez que, o que me é conhecido, causa-me fastio. É uma sensação
de falta, de incompletude. É uma forte vontade de liberdade de mim
mesmo.
Peguei um dos novos trens do Metrô. A
temperatura do ar condicionado gela as orelhas e a cabeça raspada. Deixo a
caneta solta sobre o pequeno bloco de apontamentos, feito com papel reciclado, a
espera dos sentimentos a serem materializados em palavras.
Observo as pessoas desconhecidas, absortas em seus pensamentos. Tento imaginar como serão suas vidas, no que pensam e o que agora sentem. A quentura no peito, com aquela benfazeja sensação de Presença parece querer chegar de mansinho... Aviso falso.
Na porta esquerda, parado, um soldado da Polícia Militar; seu olhar se faz tenso, carregado, diante do meu observar. Nisso, um grupo de adolescentes, com suas vozes altas rompem o solitário silêncio do vagão. Seus assuntos são bem infantis. Duas delas, com sacos de pipocas doces, as engolem em bocados apressados, sem o tempo necessário para o saborear. Não devem ter mais que dezesseis anos e parecem disputar suas certezas. Duas também são as que já apresentam os cabelos descoloridos num loiro desigual. Todas fazem uso de muita gíria e soa bastante estranho vê-las se comunicando com frases iniciadas por “e aí mano”... “então cara”...
Agora faltam duas estações para chegar ao meu destino. Em meio ao meu solitário Vergueiro, desço no Paraíso, ansioso por um momento de Augusta Consolação.
Nelson Jonas
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