A cada dia que passa, sinto mais dificuldade de me comunicar com aqueles que, como disse um amigo, "não tiveram a benção ou a maldição" de aceitar -- com seriedade e não por momentâneo escape de uma dor emocional --, assumir o desafio do auto-enfrentamento. Por eles, percebo não ser ouvido, visto ou percebido. Não consigo fazer com que raciocinem em uma só pergunta, sem que se percam em rodeios, em imagens passadas ou no escudo do emocionalismo que afugenta de vez a luz da razão. Buscar pelo entendimento não é fácil, mais cômodo é se apoiar nas imagens, sempre criadas com extrema facilidade. Por falar em imagens, por ler muito, a última imagem criada a meu respeito é a de que sou um "intelectual". Mais fácil me ver como intelectual do que alguém em busca de respostas para a constante inquietude que me impede o desfrute da verdadeira liberdade do espírito humano.
O fato é que há tempos que estou cansado de ambientes que não permitem que eu seja quem sou, do modo que sou e que de forma direta ou indireta, me forçam a uma formatação induzida ao servilismo estagnante, à domesticação servil, encrustada desde o berço. Cansei de ser "o cara agradável, politicamente correto" (e sinto profunda aversão quando me deparo com pessoas exercitando tal insano script social).
Cansei! Estou fora! Não me importo se acabar em solidão, afinal, o que é a solidão física diante de tamanha solidão emocional? Escolho viver do modo que me traga menos conflito desnecessário. Não preciso ficar fingindo não ver aquilo que não suporto, em nome de uma pseudo-unidade e bem-estar. Já não estou mais disposto a trair a mim mesmo!
Alguns me acusam de não estar disponível, o que não é um fato. Eu estou sempre disponível para quem realmente se mostra disponível para aquilo que, por direito, nos é disponível, mas, desde o berço, se mostrou indisponível. Estou disponível à disponibilidade do que me é de interesse e que, para a maioria das pessoas, em nada interessa. Não há culpados nisso: somos barcos de um mesmo estaleiro que partiram em diferentes direções. Minha dor já não é do bolso, do prestígio, do poder e da identificação com o corpo, como foi um dia. Minha dor é por demais invisível aos olhos insensíveis; meu buraco é muito, mas muito mais embaixo. Talvez, para as pessoas, seja uma benção não ter a experiência do grande vácuo da queda livre na "toca do coelho". É preciso tempo e dedicação para sabê-lo. Para mim, não há banho de shopping e construção que aplaque a tamanha inquietação do chamado da Verdade. Sou grato por ser livre de tal ilusão! E, ao contrário daquilo que sei que alguns pensam de minha parte ser inveja, na realidade é tristeza por constatar que pessoas queridas, disso ainda necessitem (por mais duras que tenham sido as surras levadas até aqui).
Comigo, bruscamente mudarão as estações fazendo com que meus antigos valores se fossem, como tudo que é arrastado por feroz enxurrada cataclísmica. Tive a benção de ter mais uma chance para constatar que a primavera da vida não dura para sempre e que se faz necessário levantar colunas em terreno solidificado pela ação da Verdade... Com os antigos valores, talvez seja possível sobreviver ao Outono, mas, no Inverno do Ser... E é só os que sobrevivem a este último que se sentem impelidos na busca da verdade de si, sem o luxo de querer escolher a cor, a direção, ou a persona de quem lhes atira a bóia.
E o que mais me enche o saco são as cobranças... Ninguém quer sentar com a própria insatisfação, o vício é querer jogar a responsabilidade no outro, pois, encontrar um bode expiatório é muito mais fácil. Não sou contra que cada um queira viver do modo que bem entenda, mas, querer também que o outro permaneça feito inconsequente "cigarra"... Aí já é demais! Sou dessas formigas que não mais se alimenta de prestígio, poder e grana... Sou dessas formigas que tem verdadeiro horror em se tornar um especialista em determinada área, e por isso, me acusam de, profissionalmente não levar nada com seriedade. Não quero saber de profissão, quero saber de vocação, quero saber para que fui chamado. E, como estes meus valores não são levados em conta pelos que se consideram "excelentes profissionais", em nada conto nesse grande formigueiro ensandecido. Se em todos estes meus anos de séria e incansável busca, estivesse lendo sobre "administração de empresas" ou "mercado financeiro", quem sabe meus esforços e investimentos seriam vistos. E, em vista disso, sempre tem um que cola o rótulo de "um cara acomodado", na imagem que carrega da minha pessoa.
Reclamam que não faço o movimento de estar junto, mas, quem é que não fica de saco cheio de, ao perguntar sobre as novidades, obter como resposta sempre o velho? Quem é que aguenta a longa exposição a conversas fúteis ou sobre a trivialidade dos fatos? Já estou quase mudando meu modo de cumprimentar as pessoas:
- E aí meu velho? O que me conta de velho?
Que me desculpem os que me são queridos, mas, cansei! Principalmente, de ser procurado somente em momentos de dificuldade, na expectativa de me encontrarem, feito a carta do coringa, sempre com sorriso no rosto e nas mãos, a solução para os seus imaturos problemas. Não dá! Quero estar com quem ousa compartilhar da realidade de seu mundo, e igualmente se interessa em conhecer o meu, com meus pontos de vista, meus valores e onde invisto meu coração (saber de meus sentimentos, seria pedir demais?). Mas, quase sempre, são raros os que ousam por uma autêntica intimidade e, para a minha infelicidade, "meus ecos" são geográfica e consanguineamente distantes. Pelo que tenho ouvido dos ecos de "outros malucos como eu", parece que, em família, ninguém quer saber de alguém querendo "consertar" aquilo que foi por anos fragmentado, em grande parte, dentro da própria família. Sinto um alívio por saber que não sou o único.
A minha realidade atual é que prefiro mil vezes a solidão do meu ser, do que a preferência nacional: a companhia de eufóricos fiéis servidores desse insano jogo que aí se encontra. Não permitirei, feito distraído abstêmio, voltar à bebida pela massiva influência desse enorme grupo de embriagados sociais, que se apresentam por todos os meios. Não quero comungar dessa maneira: esse cálice me é amargo demais. Sou um ser falho em busca de respostas. Não sou dono da verdade, no entanto, sou responsável por sustentar meu ponto de vista da verdade, a qual se apresenta a mim, de momento a momento. A superficialidade não mais me alimenta, sinto falta de investigações profundas...
Está sendo com profundo desgosto que constato que aquele que decide adentrar com seriedade no caminho do auto-conhecimento, não pode depender da aceitação grupal e/ou parental. É preciso coragem de seguir em frente, feito vidraça, onde nelas, com certeza, os menos sensíveis tentarão colocar rótulos, ou em caso de sono profundo, atirar afiadas pedras. É preciso ter em mente que ninguém é profeta em sua terra natal.
Pois bem! Fica aqui, se ainda me é de direito, meu pedido final: peço a você, que ainda me tem em conta, que de mim não espere nada, a não ser o meu impulso por compartilhar desta minha rebelde forma de amar, em defesa da qual, fiz-me voluntariamente dissidente. Portanto, para o bem de todos, cada um a sua maneira, busquemos por Vida, pois somente com sua sagrada presença, será possível viver, deixar viver e, quem sabe um dia, em verdade, comugar.
Ainda que de mim possa parecer impossível, com amor
Nelson Jonas.
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