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Como desconhecidos , porém bem conhecidos ; como morrendo , porém vivemos ; como castigados , porém não mortos ; Como entristecidos , porém sempre alegres ; pobres, mas enriquecendo a muitos ; nada tendo , mas possuindo tudo.

Evangelho de : Paulo



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Iluminado ego espiritualista



Acho no minimo, cômico, a fala de pessoas que afirmam terem alcançado a "iluminação", o "despertar", o "estado búdico" — ou seja lá qual for o nome de sua preferência, — de que livros, escolas, instituições e até mesmo o tempo, em nada possam ajudar na realização desse momento único, especial e intransferível. Já ouvi isso muitas vezes. Penso que esse tipo de informação revela um infeliz momento de desinteligência. Tento me explicar. Para mim, isso é o mesmo que afirmar que um garoto no primeiro ano escolar, não precise seguir seu curso acadêmico para obter o diploma de um especifico curso superior. Essas pessoas parecem se esquecer que, foi graças a somatória da participação nos vários lugares em que buscaram respostas para seus sofrimentos e também, através do contato com grandes "homens e mulheres que deram certo", os quais, infelizmente, só é possível por livros, que deu-se o enorme trabalho paulatino de descondicionamento mental, sem o qual não é possível a manifestação de novos níveis de consciência, com suas libertadoras percepções. Estas pessoas iluminadas esquecem que o estado de abertura mental, que o estado de receptividade a novos estados de consciência, que a compreensão e a assimilação a que chegaram, não se fez da noite para o dia. É muito fácil, depois de anos e anos de dedicada paixão — e por vezes dolorosa — busca dessa "superação de si mesmo", afirmar que tudo está contido no agora e de que não é necessário nenhum tempo, muito menos esforço para se "fazer achável pela Verdade" (imagine só um professor dizendo isso ao seu aluno da primeira série: nada de esforço! Sua formação acadêmica encontra-se aqui e agora! Basta silenciar e buscar num espaço sem palavras!)... No mínimo estranho, não é?

                 

Não creio ser possível abandonar os desastrosos efeitos de anos e anos de consistente exposição a um sistema profundamente condicionante, cuja base está alicerçada em várias manifestações de medo — medo do desamparo, do ostracismo, do não pertencer, da solidão, de não reconhecimento, entre outros milhares — medos estes que embotam por completo a mente e a percepção — sem que este abandono necessite do "tempo de maturação", a qual facilita a percepção do falso e do verdadeiro. Em outras palavras, aquele que quebrou a perna, precisa fazer uso das muletas que facilitem seu caminhar, pelo tempo necessário, até que se sinta o suficientemente forte, para largá-las, sem retrocessos e, mesmo com andar inicialmente vacilante, seguir caminho, agora, bem mais atento aos perigos de tropeços e dolorosas quedas.



Tenho visto também, por parte de afoitos buscadores da Verdade, o perigo da identificação com esta ideia que descarta o tempo de maturação necessária, o perigo de se agarrar — sem a mínima reflexão — na experiência destes "seres iluminados", e através dela, sair por aí, justificando toda forma de comportamento insano destituído de uma real inteligência. Estes afoitos buscadores justificam através do manto da espiritualidade manifesta através de frases como "só o agora é que importa", toda forma de insanidade e, através destas justificativas e desse manto da espiritualidade, escondem de si mesmos a experiência da Verdade. E o pior de tudo, sem que se deem conta, passam a tagarelar um discurso que, apesar de bonito, não outorga verdadeira transformação do espírito humano. Nada mais triste do que presenciar pessoas completamente fora de si recitando palavras de conteúdo espiritual ou religiosa... As casas de saúde mental estão repletas de "Jesus Cristos, Marias e Maomés"... Pior ainda, são aqueles que, ao abrirem mão de suas bases de sustentação — ainda que doentias — por ainda não estarem aptos para a recepção de estados de consciência de tamanha carga, ficam com sua psique aos frangalhos, chegando mesmo a estados de profunda loucura, a ponto de atentarem contra a própria existência sem vida.



Não acredito nessa história de que esse encontro com a Verdade ocorre no "Agora" e que livros e lugares não tenham validade alguma para que essa Verdade se manifeste. Creio que essa experiência benfazeja é o resultado de toda dedicação, de toda paixão a esta Verdade, em cada "agora" da caminhada pessoal. Tudo na natureza é um processo, tudo tem seu próprio tempo cronológico de maturação. Se existem saltos quânticos, precisou-se de tempo hábil para a construção do "trampolim" pelo qual tais saltos possam ocorrer.



Penso que os "senhores iluminados" precisam ter em mente, a consciência de que o ser humano, como uma lampada, não pode suportar mais do que a sua própria amperagem. Precisam ter em mente que se relacionam com pessoas ainda presas de fortes condicionamentos, entre eles, o entendimento da palavra. Se a palavra do outro, em direção a Verdade, deixada em forma de livros e instituições não tem nenhuma serventia, — se o tempo não tem nenhuma serventia, — então, oras bolas!... Com todo respeito: que estes atuais seres iluminados deixem de dirigir aos buscadores da Verdade, suas próprias palavras, seus próprios vídeos, seus livros e textos, seus satsangs e workshops, suas receitas de felicidade e de bem viver. Não permitam que outros percam seu "desprecioso tempo" com suas palavras, afinal, palavra por palavra, qual a diferença? Ou por acaso, teriam as palavras dos atuais iluminados, mais influência em direção a Verdade, do que as palavras de outros transmissores de relatos de experiências pessoais quanto a busca da iluminação?



Sinceramente, não sinto muita inteligência nisso, muito menos amorosidade. O que sinto diante de tais afirmações é um profundo desrespeito e falta de sensibilidade pelo momento alheio. Se esse tipo de comunicação for resultado da iluminação, então, que eu permaneça em silêncio em minha escuridão.



Nelson ....


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O povo não precisa de liderança, o povo precisa de consciência e tem muita gente fazendo esse trabalho, acadêmicos e não acadêmicos. Eu sei porque eu trabalho em favela muitas vezes e sei que tem muito movimento cultural rolando. Tem muito trabalho de base acontecendo. Ele não aparece e é bom que não apareça, porque se aparecer, o sistema vai lá pra acabar com aquilo. ( Eduardo Marinho )