A mente condicionada é a fonte de toda a normóse

A mente condicionada é a fonte de toda a normóse. Podem existir graus de normóse, mas todos aqueles que se mantém presos a uma mente condicionada são mais ou menos normóticos. A mente condicionada equivale a normóse.

É bem possível que você não sofra desta patologia da normalidade de forma demasiada. Talvez seja apenas um normótico manso, que ainda não "ferveu", não "evaporou" - ninguém está pensando em mandá-lo para o divã de um psicólogo ou para um acompanhamento psiquiátrico. É bem provável que você ainda seja um "normótico morno", um normótico trabalhável... ainda pode trabalhar, andar por aí numa boa e manter sua normóse dentro "das convenções sociais".

Um homem só está além da "faixa da normalidade" quando está para além do sistema de crenças.

Quando sua mente está presa a um sistema de crenças arcaica e disfuncional, se está andando em círculos e é justamente esta estagnação circular da conformidade que nos mantém doentes. É preciso sair do condicionamento mental e buscar pelo Ser, correr o risco de se manter no Aberto.

A mente não consegue viver sem mentir, por essa razão, não pode buscar pela totalidade do ser, que é a verdade. A mente se chama mente, por que mente constantemente.

O normótico vive preso a mente, por que a mente produz as mentiras tão necessárias para a manutenção da sua forma caótica de viver.

O normótico sempre teme a Verdade e por essa razão, nunca procura por pessoas, informações e lugares que possam lhe colocar em contato direto com a sua própria realidade. Sem as mentiras, o normótico não conseguiria viver, não conseguiria se movimentar pela vida. Sem a mentira o normótico se sente inadequado, introvertido, num estado de anorexia emocional e social em alto grau. Ele está sempre alimentando uma mentira, seja lá o que ele for e representando esta mentira de maneira impecável no intuito de fazer com que os outros acreditem e façam com que ele mesmo venha a acreditar na mesma.

O normótico é aquele que nunca chegou à compreensão do Ser e por isso, vive em constante desequilíbrio.

Um normótico vive de mentiras. Tem que viver desta maneira, por que está sempre tentando não aceitar a totalidade do seu ser - vive apenas uma parte de si. Então, o que ele faz com a outra parte? Cria mais uma mentira para poder ocultá-la.

Para o normótico, não é fácil a aceitação da realidade; é preciso estar constantemente numa postura de defesa, para que os outros não venham tomar conhecimento de suas mentiras. Quase sempre hostilizará àqueles que porventura queiram fazer com que ele enxergue a própria realidade. Em outros casos, a solução se manifesta através de um profundo isolamento.

O grande dilema do normótico está no fato de que é simplesmente impossível ocultar a Verdade por muito tempo. Essa tentativa patética de omitir a própria verdade, tanto de si como das outras pessoas que lhe rodeiam é fator desencadeante de tantas somatizações.

O normótico não consegue desfrutar da vida em sua plena totalidade e por esse motivo vive num constante estado de culpa. Não consegue sentir a gratidão e o prazer pelo dom da vida e com isso, permanece fechado para o Aberto.

O normótico acredita que o seu bem estar se encontra no externo, nunca em si mesmo - sempre no tempo, no espaço, nunca no aqui e no agora. Vive no futuro, na esperança, na promessa de um futuro melhor - move-se pelos desejos. O desejo precisa do tempo, pois não pode existir se não houver o tempo. O desejo é a ponte entre o passado e o futuro e é por essa razão que é dito que se faz necessário "queimar as pontes" para se chegar ao Ser.

O normótico vive agarrado no tempo, pois precisa da tensão que o mesmo lhe impõe. Ele não consegue viver sem ele. Ele precisa da ilusão espaço-temporal. Ele vive preso na ansiedade ou na procrastinação, no adiamento.

É por causa do adiamento do confronto com a realidade que o normótico permanece preso ao que ele não é. Somente quando sua maneira de viver chega ao ponto de colocar em risco "os resquícios da sua sanidade" - que pode até mesmo chegar a levá-lo ao suprimento da própria vida (ou de terceiros), é que o normótico deixa de lado a sua mente, suas mentiras e se arrisca a dar um passo qualitativo rumo ao Aberto.

Neste momento ele age e não mais re-age. Age para frente e não para traz. Busca pela verticalidade e não pela horizontalidade. Busca pelo Desconhecido e não mais pelo conformismo.

Somente quando o normótico passa a buscar pela compreensão e pela consciência do Ser que o faz ser é que consegue se libertar de sua escravidão mental.

Somente quando transfere os seus desejos pelos "teres" para o desejo do Ser, que a sua vida passa a ter qualidade, pois somente o Ser pode qualificar os teres.

A chave que abre as portas para a possibilidade de cura da patologia da normalidade está na prontificação. Prontificação para a inversão dos desejos, por que o problema básico do normótico está no abuso dos seus desejos. Ele tem que estar sempre correndo atrás da satisfação de vários desejos e o desejo é como "um cálice sem fundo" que nunca pode ser preenchido. Para o normótico, Deus é sempre o último desejo de sua lista. É preciso reorientar os desejos para que seja possível encontrar Aquele que está por trás do desejo.

A prontificação é a ferramenta interior da qual o normótico dispõe para a quebra da armadilha mental do adiamento da busca pela verdade, capaz de permitir que uma transformação qualitativa possa ocorrer.

O normótico precisa tomar a consciência da existência desta armadilha mental chamada procrastinação, adiamento. A sabedoria popular expressa isto há muito tempo: Porque deixar para depois o que pode ser feito hoje? Porque não fazê-lo agora? Porque deixar para o amanhã? Porque sofrer mais? Porque não buscar pela única coisa necessária?

Sem o retardamento dos seus desejos e sem a prontificação não poderá ocorrer nenhuma transformação qualitativa. O normótico vive na procrastinação e é por isso que continua sempre o mesmo. Isso pode ser constatado numa celebre frase de um grande místico: "Senhor, tornai-me puro e casto... mas não hoje!".

A transformação, a transmutação, a transcendência só pode ocorrer a partir do momento divino da prontificação, que nada mais é do que um estado de alerta onde não se requer nenhuma outra ação por parte do normótico, a não ser, um estado de quietude. É neste momento de quietude, de vacuidade, que o Ser que o faz ser, este Ser Divino que o habita e da qual todos nós somos parte, pode transmutar suas características mental-emocional-espiritual.

Esta é a porta estreita pela qual o normótico tem que passar para poder chegar a transcendência.

A prontificação é a ação onde o normótico se permite a vacuidade plena tão necessária para que a graça de Deus possa limpar e preencher o seu cálice, que em sua essência, já transborda de tanta santidade.