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Como desconhecidos , porém bem conhecidos ; como morrendo , porém vivemos ; como castigados , porém não mortos ; Como entristecidos , porém sempre alegres ; pobres, mas enriquecendo a muitos ; nada tendo , mas possuindo tudo.

Evangelho de : Paulo



domingo, 31 de julho de 2011

Sobre o não ter filhos




Perguntaram-me nesta semana, se eu não sentia o desejo de ter um filho. Pude constatar o espanto do meu interlocutor, ao ouvir a segurança da minha negativa quanto a esse desejo. Ele, com enfase me respondeu que isso era uma pena, visto que muito se aprende com o trabalho de se dedicar ao outro. Fiquei em silêncio, uma vez que, não há como transmitir ao outro o que é ter sido fecundado pela Grande Vida, no ventre que somos, a possibilidade de fazer-se crescer como obediente filho do Ser que nos faz ser, sendo. Mal pode ele imaginar, o quanto trabalhosa e responsável se faz tal paternidade, de muitos desconhecida.



Nelson


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sobre a massa


As revoluções fundamentais são produzidas pela massa, ou são elas iniciadas por uns poucos indivíduos de visão que, pelo seu verbo e sua energia, influenciam grande número de pessoas? É assim que nascem as revoluções. Não é um erro julgar que nós, como indivíduos, nada podemos fazer? Não é um engano supor que todas as revoluções fundamentais são produzidas pela massa? Porque supomos que os indivíduos não têm importância como indivíduos? Com esse modo de ver, nunca pensaremos por nós mesmos, e reagiremos sempre automaticamente. A ação é sempre da massa? Ela não brota essencialmente do indivíduo, comunicando-se, depois, de indivíduo a indivíduo? Não existe realmente essa coisa chamada massa. Afinal de contas, a massa é uma entidade constituída de pessoas que estão enredadas, hipnotizadas por palavras, por certas idéias. Quando não estamos hipnotizados por palavras, estamos à margem da corrente - coisa de que nenhum político haveria de gostar. Não deveríamos manter-nos à margem da corrente e tirar dela outros indivíduos, em número crescente, para, dessa maneira, influir na corrente? Não importaria muito que, em primeiro lugar, se realizasse uma transformação fundamental no indivíduo, que antes de tudo vós e eu nos transformássemos radicalmente, em vez de esperarmos que todo o mundo se transforme? Não é uma concepção "escapista", uma forma de indolência, uma maneira de fugir ao problema, supor que vós e eu somos incapazes de influir, por pouco que seja, na sociedade como um todo?

Krishnamurti - O que estamos buscando?


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Foi-se o tempo




No tempo da baixa auto-estima, eu me permitia a convivência com pessoas que davam o melhor de si para o sistema e quanto a mim, somente o bagaço de suas mentes e corações. Hoje, não mais.

Nelson

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O criminoso e o político


O criminoso e o político são o mesmo tipo de pessoa.



Se o criminoso se tornar politicamente bem sucedido ele é um grande líder.



Se o político não conseguir ficar no poder ele se torna um criminoso.



Eles são pessoas destrutivas: todo o seu esforço é para dominar os outros.



Osho


Aviso aos acadêmicos das letras




Pouco me interessa se a letra mata o espírito ou se o espírito mata a letra.
Quem só entende da letra, do espírito nada compreende.
Quem compreende o espírito, sobrepuja a letra.
Por mim, que morra a limitação da letra e sempre permaneça, a lucidez do espírito, a qual muitos letrados erroneamente rotulam como pseudo-intelectualidade.
Tudo bem... Herrar é Umano!



terça-feira, 26 de julho de 2011

todos o estão influenciando .... para escolher outra direção.....



Vou contar – lhe uma história;uma historia sufi.Um ancião e um jovem viajam com um burrico.Eles chegam perto de uma cidade e estão caminhando com o seu burrico.
          Alunos de uma escola passam por eles, riem baixinho e dizem:”Vejam esses tolos:possuem um burrico saudável e estão caminhando.Pelo menos o ancião poderia sentar – se no burrico”.
Ouvindo essas crianças,o ancião e o jovem se perguntaram: “ O que devemos fazer?As pessoas estão rindo e logo entraremos na cidade,portanto é melhor acatar o que estão dizendo.”Então o ancião senta-se no burrico e o jovem o segue a pé.
         Em seguida , eles se aproximam de um outro grupo de pessoas que os observam e dizem:”Vejam!O ancião está sentado no burrico e o pobre menino está caminhando.Isso é um absurdo!O ancião pode caminhar,porem o menino deveria sentar-se no burrico.”Então eles trocam de lugar;o ancião começa a caminhar e o menino senta-se no burrico.


Chega então um outro grupo e diz :”Vejam esses tolos.Este menino parece ser muito arrogante.Talvez o ancião seja seu pai ou seu professor,porém o ancião está caminhando e o jovem está sentado no burrico – isso é contra todas as regras!”.
         Então o que eles deveriam fazer agora?Decidem que só há uma possibilidade-devem ambos sentar-se no burrico e o fazem.
Então chegam mais algumas pessoas e dizem:”Vejam essas pessoas,Tão violentas!O pobre burrico está quase morrendo.Duas pessoas em um burrico?Seria melhor levar o burrico nos ombros.”
         Portanto os dois homens discutem novamente e percebem então que estão se aproximando do rio e da ponte.Agora quase chegaram á divisa  da cidade e decidem:
“É melhor proceder como dizem as pessoas desta cidade,caso contrário pensaram que somos tolos.”Pegam então um pedaço de bambu e levam em seus ombros as pernas atadas do burrico, o amarram ao bambu e o carregam.O burrico tenta rebelar-se,conforme os burricos fazem(eles não podem ser forçados muito facilmente).Ele tenta escapar porque não acredita na sociedade e no que os outros dizem.Porém,os dois homens são muito fortes e o burrico acaba desistindo.
          Bem no meio da ponte passam algumas pessoas , que se agrupam dizendo:”Vejam, que tolos !Nunca vimos idiotas assim – um burrico existe para levar pessoas e não para ser carregado nos ombros.
Eles enlouqueceram?
          Escutando-os – é uma grande multidão ( o burrico torna-se inquieto a ponto de pular,libertando –se , e cair no rio. )
Ambos os homens descem até o rio.O burrico está morto.
Eles se sentam na margem do rio e o ancião diz:”Agora escute .....”
          Essa não é uma historia comum – o ancião era um mestre sufi,uma pessoa com conhecimento e o jovem era um discípulo.O velho mestre estava tentando transmitir-lhe uma lição,porque os sufis sempre criam situações : eles afirmam que,a não ser que exista a situação real,você não consegue aprender a lição corretamente.Portanto,esse era apenas um cenário para o jovem.O ancião disse:”Veja – de modo análogo a esse burrico,você morrerá se levar muito em conta a opinião das pessoas.Não se preocupe com o que os outros dizem,porque existem milhões de pessoas e elas têm suas próprias mentes e todas dirão algo diferente ;toda pessoa tem suas opiniões e se você escutá-las , será seu fim”.

Não escute todos,permaneça você mesmo.Simplesmente não preste atenção aos demais,seja indiferente.Se continuar escutando a todos,eles o estarão influenciando para optar por um ou por outro caminho.Você nunca será capaz de atingir seu centro mais interior.

          Toda pessoa se tornou excêntrica.Esta palavra é muito bonita:significa fora do centro e a utilizamos para descrever pessoas malucas.Porém todos são excêntricos,fora do centro.E todo mundo o está ajudando a tornar-se excêntrico porque todos o estão influenciando.Sua mãe ,seu pai,em direção ao sul;seu tio está lhe dizendo uma coisa,seu irmão,algo diferente.Sua mulher,evidentemente,o está influenciando para ir em outra direção – Todos estão tentando forçá-lo a ir em determinada direção.Em breve surge um momento em que você não está em nenhum lugar.Permanece apenas nos cruzamentos, sendo empurrado de norte a sul , de sul para leste,do leste para oeste,movendo-se para lugar nenhum.Logo isso se torna toda a sua vida – você se torna excêntrico.Essa é a situação.E se você continuar escutando os outros e não seu centro mais intimo,essa situação continuará.

          A finalidade de toda meditação consiste em tornar-se centrado e não em ser excêntrico – chegar a seu próprio centro.

          Escute sua voz interior,sinta-se e vá adiante com esse sentimento.Logo você será capaz de rir da opinião dos outros ou simplesmente permanecer indiferente.E,após tornar-se centrado,você se transforma em um ser poderoso;então ninguém consegue influencia-lo,ninguém  pode empurrá-lo em direção a algo – simplesmente ninguém ousa.Você tem um tal poder,centrado em si mesmo , que qualquer pessoa que emita uma opinião a seu respeito simplesmente esquece a opinião que tem quando se aproxima de você.Toda pessoa que chega para lhe indicar um caminho simplesmente esquece que veio para imfluenciá-lo.Mas tão logo ela se aproxima de  você,começa a sentir-se dominada por sua pessoa.

          É assim que uma única pessoa pode se tornar tão poderosa a ponto de toda a sociedade,toda Historia,não conseguir movê-la sequer um centimentro.É por isso que existe ,Jesus.Você pode matar Jesus ,mas não pode movê-lo.Você pode destruir seu corpo ,porém não consegue movê-lo sequer um centímetro.Não que a pessoa seja inflexível ou teimosa ,não;ela apenas está centrada em seu próprio corpo.Sabe o que é bom para ela e o que lhe traz alegria.Isso já aconteceu;agora você não consegue seduzi-la para novas metas;nenhuma arte de convencimento pode influenciá-la para ter qualquer meta.Ela encontrou seu lar.Pode escutá-lo pacientemente ,porém você não consegue demovê-la.Ela é centrada.





segunda-feira, 25 de julho de 2011

Girassol


O que nos faz bem é o que nos mata. Tantos chavões. O mundo se tornou um lugar de pequenos pensadores, de conversas frivolas, de domingos sem parque e de girassóis sem noção de tempo – todos giramos para os lados errados, procurando em holofotes soltos por aí a nossa direção. É estranho pensar, mas o que chamamos de cultura pop deformou a forma como sentimos e distorceu os relacionamentos de uma forma cruel. Hoje preferimos nos representar, usando as palavras dos outros como diálogos. com tantas vozes na multidão o que sobra são os próprios ecos dentro de nos mesmos – porém, “o som não se propaga no vácuo”.

Autor: Poe Bellentani

Pego pelo trem!



A escrita é um ilusório agente modificador.

Nada, nem ninguém, foram transformados de forma real, inegável e permanente lendo palavras por mais tocantes sejam o teor e o fraseado delas.

Pode ocorrer um súbito alumbramento no leitor, tão durável quanto a disponibilidade dele em manter acesas as condições favoráveis àquele alumbramento; ou seja, fugaz como um lapso de luz em nosso ser.

Se considerarmos a vida como uma linha de tempo contínua, o tal lapso de luz seria como o trem que entrecorta esta linha em determinado cruzamento, obrigando-nos a parar para assistir, estarrecidos, aos enormes vagões passando, estremecendo o solo por onde andamos!

E combalidos por esta visão, somos forçados a continuar andando neste mesmo solo vergastado por aqueles assombrosos vagões... sem nunca mais sermos os mesmos!

Liban Raach


O Império do Consumo



A explosão do consumo no mundo atual faz mais barulho do que todas as guerras e mais algazarra do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco, aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro. A gandaia aturde e anuvia o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo faz muito barulho, assim como o tambor, porque está vazia; e na hora da verdade, quando o estrondo cessa e acaba a festa, o bêbado acorda, sozinho, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos quebrados que deve pagar. A expansão da demanda se choca com as fronteiras impostas pelo mesmo sistema que a gera. O sistema precisa de mercados cada vez mais abertos e mais amplos tanto quanto os pulmões precisam de ar e, ao mesmo tempo, requer que estejam no chão, como estão, os preços das matérias primas e da força de trabalho humana. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta aventura começa e termina na telinha da TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, às vezes, materializa cometendo delitos.

O direito ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.

Dize-me quanto consomes e te direi quanto vales.

Esta civilização não deixa as flores dormirem, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores estão expostas à luz contínua, para fazer com que cresçam mais rapidamente. Nas fábricas de ovos, a noite também está proibida para as galinhas. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar.

Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem metade dos calmantes, ansiolíticos e demais drogas químicas que são vendidas legalmente no mundo; e mais da metade das drogas proibidas que são vendidas ilegalmente, o que não é uma coisinha à-toa quando se leva em conta que os EUA contam com apenas cinco por cento da população mundial.

«Gente infeliz, essa que vive se comparando», lamenta uma mulher no bairro de Buceo, em Montevidéu. A dor de já não ser, que outrora cantava o tango, deu lugar à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem.

«Quando não tens nada, pensas que não vales nada», diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, em Buenos Aires.

E outro confirma, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: «Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas, e vivem suando feito loucos para pagar as prestações».

Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade, e a uniformidade é que manda.

A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todas partes suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora do que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar. O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde quantidade com qualidade, confunde gordura com boa alimentação.

Segundo a revista científica The Lancet, na última década a «obesidade mórbida» aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou 40% nos últimos dezesseis anos, segundo pesquisa recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free, tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar desce do carro só para trabalhar e para assistir televisão. Sentado na frente da telinha, passa quatro horas por dia devorando comida plástica. Vence o lixo fantasiado de comida: essa indústria está conquistando os paladares do mundo e está demolindo as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêm de longe, contam, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade e constituem um patrimônio coletivo que, de algum modo, está nos fogões de todos e não apenas na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão sendo esmagadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida em escala mundial, obra do McDonald´s, do Burger King e de outras fábricas, viola com sucesso o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas. A Copa do Mundo de futebol de 1998 confirmou para nós, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola proporciona eterna juventude e que o cardápio do McDonald´s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército do McDonald´s dispara hambúrgueres nas bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O duplo arco dessa M serviu como estandarte, durante a recente conquista dos países do Leste Europeu. As filas na frente do McDonald´s de Moscou, inaugurado em 1990 com bandas e fanfarras, simbolizaram a vitória do Ocidente com tanta eloqüência quanto a queda do Muro de Berlim. Um sinal dos tempos: essa empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. O McDonald´s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama de Macfamília, tentaram sindicalizar-se em um restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas, em 98, outros empregados do McDonald´s, em uma pequena cidade próxima a Vancouver, conseguiram essa conquista, digna do Guinness. As massas consumidoras recebem ordens em um idioma universal: a publicidade conseguiu aquilo que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que a televisão transmite.

No último quarto de século, os gastos em propaganda dobraram no mundo todo. Graças a isso, as crianças pobres bebem cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite e o tempo de lazer vai se tornando tempo de consumo obrigatório.

Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisão, e a televisão está com a palavra. Comprado em prestações, esse animalzinho é uma prova da vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as qualidades dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos ficam sabendo das vantajosas taxas de juros que tal ou qual banco oferece. Os especialistas sabem transformar as mercadorias em mágicos conjuntos contra a solidão. As coisas possuem atributos humanos: acariciam, fazem companhia, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o carro é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.

Os buracos no peito são preenchidos enchendo-os de coisas, ou sonhando com fazer isso. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas escolhem você e salvam você do anonimato das multidões.

A publicidade não informa sobre o produto que vende, ou faz isso muito raramente. Isso é o que menos importa. Sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. Comprando este creme de barbear, você quer se transformar em quem? O criminologista Anthony Platt observou que os delitos das ruas não são fruto somente da extrema pobreza.

Também são fruto da ética individualista. A obsessão social pelo sucesso, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Eu sempre ouvi dizer que o dinheiro não trás felicidade; mas qualquer pobre que assista televisão tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro trás algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX marcou o fim de sete mil anos de vida humana centrada na agricultura, desde que apareceram os primeiros cultivos, no final do paleolítico. A população mundial torna-se urbana, os camponeses tornam-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo, e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em todas partes, mas por experiência própria sabem que atende nos grandes centros urbanos. As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os esperadores olham a vida passar, e morrem bocejando; nas cidades, a vida acontece e chama. Amontoados em cortiços, a primeira coisa que os recém chegados descobrem é que o trabalho falta e os braços sobram, que nada é de graça e que os artigos de luxo mais caros são o ar e o silêncio. Enquanto o século XIV nascia, o padre Giordano da Rivalto pronunciou, em Florença, um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam «porque as pessoas sentem gosto em juntar-se». Juntar-se, encontrar-se. Mas, quem encontra com quem? A esperança encontra-se com a realidade? O desejo, encontra-se com o mundo? E as pessoas, encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente encontra-se com as coisas? O mundo inteiro tende a transformar-se em uma grande tela de televisão, na qual as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. Os terminais de ônibus e as estações de trens, que até pouco tempo atrás eram espaços de encontro entre pessoas, estão se transformando, agora, em espaços de exibição comercial. O shopping center, o centro comercial, vitrine de todas as vitrines, impõe sua presença esmagadora. As multidões concorrem, em peregrinação, a esse templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora é submetida ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e desce pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago; e para ver e ouvir não é preciso pagar passagem. Os turistas vindos das cidades do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas benesses da felicidade moderna, posam para a foto, aos pés das marcas internacionais mais famosas, tal e como antes posavam aos pés da estátua do prócer na praça. Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam até o centro. O tradicional passeio do fim-de-semana até o centro da cidade tende a ser substituído pela excursão até esses centros urbanos. De banho tomado, arrumados e penteados, vestidos com suas melhores galas, os visitantes vêm para uma festa à qual não foram convidados, mas podem olhar tudo. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas. A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo à descartabilidade midiática. Tudo muda no ritmo vertiginoso da moda, colocada à serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje, quando o único que permanece é a segurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, são tão voláteis quanto o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa na velocidade da luz: ontem estava lá, hoje está aqui, amanhã quem sabe onde, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos da fugacidade, oferecem a mais bem-sucedida ilusão de segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, além das turbulências da perigosa realidade do mundo. Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota assim como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem pausa, no mercado.

Mas, para qual outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar na historinha de que Deus vendeu o planeta para umas poucas empresas porque, estando de mau humor, decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha para pegar bobos. Aqueles que comandam o jogo fazem de conta que não sabem disso, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro por corrigir, nem um defeito por superar: é uma necessidade essencial.

Não existe natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta. Tradução: Verso Tradutores

Autor: Eduardo Galeano



é a forma de se revoltar contra essa midia que nos emburram ., cegam e nos faz agirmos como se não tivessemos cabeça pra pensar e escolher !!!!! quem são eles??






MUITO BOA, a letra é perfeita retrata a realaidade, o consumismo, os porblemas sociais, faz critica aos lideres.

Mas de quem será que o Gessinger está falando nessa música????!!
Não seria da Elite Global, dos Illuminattis, dos Bilderbergs??
São eles que estão formando o Governo mundial assinado por Barack Obama e vários outros presidentes, inclusive o Lula.
Vamos acordar para o que está acontecendo em nossas vidas!!
Se acha que não é, pergunta pro Gessinger e ele irá explicar pra vcs pq ele não está na mídia podre!!!

Isso me lembra as surrerais apresentações do engenheiros no faustao com as dançarinas dançando. Bizarro
 Um clip serve , muitas vezes pra mostrar o que o cantor está dizendo na música. A festa é tudo que atrai o ser humano, são os nossos desejos fabricados pela mídia. Simples. hehehehe
O Gessinger mesmo disse que não gostou, do video Clip .





Iluminado ego espiritualista



Acho no minimo, cômico, a fala de pessoas que afirmam terem alcançado a "iluminação", o "despertar", o "estado búdico" — ou seja lá qual for o nome de sua preferência, — de que livros, escolas, instituições e até mesmo o tempo, em nada possam ajudar na realização desse momento único, especial e intransferível. Já ouvi isso muitas vezes. Penso que esse tipo de informação revela um infeliz momento de desinteligência. Tento me explicar. Para mim, isso é o mesmo que afirmar que um garoto no primeiro ano escolar, não precise seguir seu curso acadêmico para obter o diploma de um especifico curso superior. Essas pessoas parecem se esquecer que, foi graças a somatória da participação nos vários lugares em que buscaram respostas para seus sofrimentos e também, através do contato com grandes "homens e mulheres que deram certo", os quais, infelizmente, só é possível por livros, que deu-se o enorme trabalho paulatino de descondicionamento mental, sem o qual não é possível a manifestação de novos níveis de consciência, com suas libertadoras percepções. Estas pessoas iluminadas esquecem que o estado de abertura mental, que o estado de receptividade a novos estados de consciência, que a compreensão e a assimilação a que chegaram, não se fez da noite para o dia. É muito fácil, depois de anos e anos de dedicada paixão — e por vezes dolorosa — busca dessa "superação de si mesmo", afirmar que tudo está contido no agora e de que não é necessário nenhum tempo, muito menos esforço para se "fazer achável pela Verdade" (imagine só um professor dizendo isso ao seu aluno da primeira série: nada de esforço! Sua formação acadêmica encontra-se aqui e agora! Basta silenciar e buscar num espaço sem palavras!)... No mínimo estranho, não é?

                 

Não creio ser possível abandonar os desastrosos efeitos de anos e anos de consistente exposição a um sistema profundamente condicionante, cuja base está alicerçada em várias manifestações de medo — medo do desamparo, do ostracismo, do não pertencer, da solidão, de não reconhecimento, entre outros milhares — medos estes que embotam por completo a mente e a percepção — sem que este abandono necessite do "tempo de maturação", a qual facilita a percepção do falso e do verdadeiro. Em outras palavras, aquele que quebrou a perna, precisa fazer uso das muletas que facilitem seu caminhar, pelo tempo necessário, até que se sinta o suficientemente forte, para largá-las, sem retrocessos e, mesmo com andar inicialmente vacilante, seguir caminho, agora, bem mais atento aos perigos de tropeços e dolorosas quedas.



Tenho visto também, por parte de afoitos buscadores da Verdade, o perigo da identificação com esta ideia que descarta o tempo de maturação necessária, o perigo de se agarrar — sem a mínima reflexão — na experiência destes "seres iluminados", e através dela, sair por aí, justificando toda forma de comportamento insano destituído de uma real inteligência. Estes afoitos buscadores justificam através do manto da espiritualidade manifesta através de frases como "só o agora é que importa", toda forma de insanidade e, através destas justificativas e desse manto da espiritualidade, escondem de si mesmos a experiência da Verdade. E o pior de tudo, sem que se deem conta, passam a tagarelar um discurso que, apesar de bonito, não outorga verdadeira transformação do espírito humano. Nada mais triste do que presenciar pessoas completamente fora de si recitando palavras de conteúdo espiritual ou religiosa... As casas de saúde mental estão repletas de "Jesus Cristos, Marias e Maomés"... Pior ainda, são aqueles que, ao abrirem mão de suas bases de sustentação — ainda que doentias — por ainda não estarem aptos para a recepção de estados de consciência de tamanha carga, ficam com sua psique aos frangalhos, chegando mesmo a estados de profunda loucura, a ponto de atentarem contra a própria existência sem vida.



Não acredito nessa história de que esse encontro com a Verdade ocorre no "Agora" e que livros e lugares não tenham validade alguma para que essa Verdade se manifeste. Creio que essa experiência benfazeja é o resultado de toda dedicação, de toda paixão a esta Verdade, em cada "agora" da caminhada pessoal. Tudo na natureza é um processo, tudo tem seu próprio tempo cronológico de maturação. Se existem saltos quânticos, precisou-se de tempo hábil para a construção do "trampolim" pelo qual tais saltos possam ocorrer.



Penso que os "senhores iluminados" precisam ter em mente, a consciência de que o ser humano, como uma lampada, não pode suportar mais do que a sua própria amperagem. Precisam ter em mente que se relacionam com pessoas ainda presas de fortes condicionamentos, entre eles, o entendimento da palavra. Se a palavra do outro, em direção a Verdade, deixada em forma de livros e instituições não tem nenhuma serventia, — se o tempo não tem nenhuma serventia, — então, oras bolas!... Com todo respeito: que estes atuais seres iluminados deixem de dirigir aos buscadores da Verdade, suas próprias palavras, seus próprios vídeos, seus livros e textos, seus satsangs e workshops, suas receitas de felicidade e de bem viver. Não permitam que outros percam seu "desprecioso tempo" com suas palavras, afinal, palavra por palavra, qual a diferença? Ou por acaso, teriam as palavras dos atuais iluminados, mais influência em direção a Verdade, do que as palavras de outros transmissores de relatos de experiências pessoais quanto a busca da iluminação?



Sinceramente, não sinto muita inteligência nisso, muito menos amorosidade. O que sinto diante de tais afirmações é um profundo desrespeito e falta de sensibilidade pelo momento alheio. Se esse tipo de comunicação for resultado da iluminação, então, que eu permaneça em silêncio em minha escuridão.



Nelson ....


domingo, 24 de julho de 2011

A desumanidade do homem


Perguntaram a Osho:
Por que as pessoas tratam uns aos outros como o fazem? Tudo isso é condicionamento, ou há algo no homem que o torna disposto a se desviar?

Osho: São ambas as coisas.

Primeiro, há alguma coisa no homem que o desencaminha. E segundo, existem pessoas cujos interesses é desencaminhar os seres humanos. Ambos juntos criam um ser humano falso, um impostor. Seu coração anseia por amor, mas sua mente condicionada o impede de amar.

Esse é o problema. A criança nasce com um coração que anseia por amor, mas ela também nasce com um cérebro que pode ser condicionado.

A sociedade tem que condicioná-lo contra o coração, porque o coração será sempre rebelde contra a sociedade, ele irá sempre seguir seu próprio caminho. O coração não pode ser tido como um soldado. Ele pode se tornar um poeta, ele pode se tornar um cantor, pode se tornar um dançarino, mas não pode se tornar um soldado.

Ele pode sofrer pela sua individualidade, ele pode morrer pela sua individualidade e liberdade, mas ele não pode ser escravizado. Esse é o estado do coração. Mas a mente...

A criança vem com um cérebro vazio, apenas um mecanismo, o qual você pode arrumar da maneira que você quiser. Ele irá aprender a língua que você ensinar, ele aprenderá a religião que você ensinar, ele aprenderá a moralidade que você ensinar.

Ele é simplesmente um computador, você apenas o alimenta com informações. E toda sociedade cuida de tornar a mente cada vez mais forte para que se houver algum conflito entre a mente e o coração, a mente irá vencer. Mas cada vitória da mente sobre o coração é uma miséria. É uma vitória sobre sua natureza, sobre seu ser — sobre você — pelos outros. E eles cultivaram sua mente para servir ao propósito deles.

Portanto, a mente é vazia, seu cérebro; você pode colocar qualquer coisa nela. E com vinte e cinco anos de educação você pode torná-la tão forte que você pode esquecer seu coração; você irá permanecer sempre miserável.

A miséria é que seu coração só pode lhe dar alegria, só pode lhe dar felicidade, só pode lhe fazer dançar. A mente pode fazer aritmética, mas ela não pode cantar uma canção. Essas não são as habilidades da mente. Assim você está dividido entre sua natureza, que é seu coração, e a sociedade, que é sua cabeça. E certamente você nasce — todos nascem — com esses dois centros. Essa é a dificuldade.

E um centro está vazio. Numa sociedade melhor ele será utilizado de acordo com o coração, para servir ao coração. Então será uma grande vida, cheia de regozijos. Mas até agora temos vivido numa sociedade feia, com idéias podres. Eles usaram a mente. E essa vulnerabilidade existe — a mente pode ser usada.

Agora os comunistas a estão usando de uma maneira; os fascistas a usaram na Alemanha de outra maneira; todas as outras religiões a estão usando de diferentes maneiras. Mas essa vulnerabilidade está em todos os indivíduos: que você tem uma mente que você trouxe vazia. De fato, isso é uma bênção da existência – mas, mal utilizada, explorada.

Ela lhe é dada vazia para que você possa fazê-la perfeitamente subserviente ao seu coração, aos seus anseios, ao seu potencial. Não há nada de errado nisso. Mas os interesses investidos por todo o mundo encontraram nisso uma bela oportunidade para eles — para usar a mente contra o coração. Assim você permanece miserável e eles podem lhe explorar por todos os meios que quiserem.

Eis porque todo o mundo é miserável.

Todo mundo quer ser amado, todos querem amar; mas a mente é uma barreira tal que nem lhe permite amar, nem lhe permite ser amado. Em ambos os casos a mente fica no caminho e começa a distorcer tudo. E mesmo se por acaso você encontrar uma pessoa que você sinta amor por ela e a pessoa sinta amor por você, suas mentes não irão concordar. Elas foram treinadas por sistemas diferentes, religiões diferentes, sociedades diferentes.

Ser feliz é um direito inato de todos, mas infelizmente a sociedade, as pessoas com as quais estamos vivendo, que nos trouxeram para este mundo, não pensaram nada a respeito disso. Elas estão somente reproduzindo seres humanos como animais — até mesmo pior que isso porque pelo menos os animais não são condicionados.

Esse processo de condicionamento deve ser completamente mudado. A mente deve ser treinada para ser uma serva do coração. A lógica deve servir ao amor. E assim a vida pode se tornar um festival de luzes.

Osho, em "Beyond Psychology"




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O povo não precisa de liderança, o povo precisa de consciência e tem muita gente fazendo esse trabalho, acadêmicos e não acadêmicos. Eu sei porque eu trabalho em favela muitas vezes e sei que tem muito movimento cultural rolando. Tem muito trabalho de base acontecendo. Ele não aparece e é bom que não apareça, porque se aparecer, o sistema vai lá pra acabar com aquilo. ( Eduardo Marinho )