Durante anos, devido ao sistema de educação, devido a cultura em que fomos inseridos, fomos adestrados, formatados, a um modo de ser e estar na vida onde nos víamos totalmente inconscientes de nossa realidade interna e externa. A imaturidade parental, a disfunção familiar, deu inicio a transferência de valores arcaicos e disfuncionais através de uma educação autoritária que perverte o senso de valor e a integridade do aprendiz da vida. A chamada educação não passa de um estado de coerção mental a um senso de valores pré-estabelecidos, que transforma o aprendiz indefeso num autômato passivo, submisso e útil ao sistema estabelecido. Devido ao processo de embotamento mental, o aprendiz se torna presa fácil, uma marionete das manobras sociais orientadas para o consumo e a consequente alimentação e continuidade de um sistema desumano. Passamos a ser excessivamente expostos a um processo de instalação de profundos e corrosivos condicionamentos, por intermédio de imagens gráficas e midiáticas, através de uma enorme série de símbolos, sinais, sons que transmitem um grande número de padrões que se transformam em reflexos condicionantes a um dado estímulo. Exemplo: (hinos, bandeiras, mapas, alimentos, brinquedos, logotipos, marcas, brasões familiares e patrióticos, jingles...). Nossa necessidade de aceitação e senso de pertencer nos leva a facilidade de ajustamento servil ou, então, na melhor das hipóteses, a instalação de um processo de rebeldia inicialmente destituída de uma inteligência amorosa.
..........Na faze inicial escolar, dá-se o inicio da programação mental através de um Programa de Ensino que erroneamente é chamado de sistema de educação, quando na realidade, deveria ser chamado de programa de formatação e adestramento servil. A educação é baseada na comparação e punição, método este que leva ao abalamento do espírito e o enfraquecimento da vontade. É um sistema de influência tão bem organizado que leva a domesticação e submissão à servidão; um sistema de doutrinação forçada que dia a dia, nos distancia de nós mesmos. É uma nefasta educação, baseada num sistema de medo hipnótico, o qual cria uma apatia que faz com que a grande maioria se submeta a qualquer sugestão por parte das pessoas que representam autoridade; uma educação voltada para uma inquestionada aceitação do sistema de crença através de um sistema de pressão mental que leva ao enfraquecimento da curiosidade e da vontade, tendo como resultado um estado de conformismo, que mina a capacidade da manifestação de nosso estado criativo e, consequentemente, no desenvolvimento e instalação de nossa verdadeira vocação. Paralelamente à educação, instala-se também uma profunda confusão de conceitos e contradições de ideologias através do sistema de crença organizada, que erroneamente chamam de religião, herdada de nossa família. Se é que o homem necessite da filiação a algum limitante sistema de crença organizada, este, deveria ser escolhido, no mínimo, a partir de seus 18 anos de idade, quando o mesmo, já não se encontra 100% indefeso diante de tal miopia.
..........O que acontece é que qualquer manifestação de resistência mental é castigada em nome do ajustamento às “verdades sistêmicas» diariamente gravadas em sua mente. Dá-se um processo de castração, de impedimento de qualquer outra forma de interpretação da realidade, uma vez que o espírito aberto para indagações está aberto para a dissensão. A educação impede a formação de um estado de percepção da realidade e cria uma espécie de transe, o qual facilita a instalação do «sistema de identificação com o sistema”, o que ocorre, através do método da repetição. Tal sistema recebe o nome de: «Grade do sistema de Ensino», justamente com "tradição familiar".
..........A prolongada exposição a tais sistemas, transforma boa parte dos seres humanos - se é que podemos chamá-los de humanos - em máquinas de pensar reflexo-condicionada, sempre automaticamente reagentes a predeterminados impulsos e padrões. A função desses sistemas de ensino e educação é a de condicionar e moldar o espírito, de modo a confinar-lhe o entendimento num limitado conceito totalitário, fundamentalista do mundo, transformando-o, quase sempre, num autômato mental, num autômato repetidor dos passos das pessoas significativas de sua infância e adolescência, época esta, onde ocorre a perda de si mesmo. O sistema de educação em que a grande maioria de nós fomos submetidos, não prepara o homem para a independência, para a autonomia do espírito, para a maturidade emocional, ao contrário, amestra-o, fazendo dele um instrumento dependente e dócil na mão do sistema e do sagaz empresariado. Torna-o menos apto para o enfrentamento de novos e inesperados desafios e um agente da manutenção e continuidade do ciclo sistêmico.
..........Em consequência desse abusivo sistema que nos distancia de nós mesmos, que nos distancia de nossa natureza real, passamos a nos identificar, de forma equivocada, com a irrealidade de um personagem, personagem este que foi criado ao longo dos anos, a nossa personalidade, o nosso ego, com o qual passamos a acreditar ser o nosso "eu". Quando este se instala, toda originalidade, toda autenticidade, todo movimento de livre expressão é renegado de forma inconsciente. Quando nos identificamos como sendo esse "eu", quando nos identificamos com a respeitabilidade e as zonas de conforto estagnante que esse "eu" produz, não há como expressar originalidade de pensamento e ação, ao contrário, o que passa a se manifestar é apenas um padrão de comportamento baseado na mera imitação, amoldamento e ajustamento. Para muitos, infelizmente, esse padrão de comportamento será exercido até o fim de seus dias, até seu último suspiro. Os infelizes, acometidos a esta realidade, deveriam ter cunhadas em suas lápides, expressão parecida com esta: "aqui jaz fulano de tal, alguém que em nome da aceitação social, abriu mão de seus reais sentimentos, ao ponto de morrer, totalmente analfabeto de si mesmo". Outros, mais felizardos, são agraciados pela Graça, que através de uma dolorosa e destruidora vivência do Absurdo, - destruidora porque é um abençoado processo de demolição de todo um modo de vida disfuncional que impede o conhecimento de nossa real natureza - veem como única opção, seguir em busca de si mesmo, uma vez que, por outro lado, só loucura ou a possibilidade do suicídio se apresentam. O importante ressaltar que, quando me refiro ao suicídio, não me refiro ao ato direto que põe fim a uma existência sem vida. A grande maioria pratica um suicídio homeopático de longo prazo, em pequenas doses diárias e que de forma inconsequente o identificam como "busca por qualidade de vida". O que chamam de qualidade de vida, fundamenta-se na exterioridade, no acúmulo de acessórios criados pelo intelecto, no crescente colecionar e uso de objetos anestesiantes, uso este de tamanha importância psicológica para a superação das fortes pressões de ajustamento. Aqui se inicia um processo de inquestionada dependência física e psicológica dos mesmos. Tudo isso, creio que vale me repetir, pela doentia necessidade de aceitação e senso de pertencer que leva a facilidade de ajustamento servil. Raros são aqueles que ao invés desse ajustamento, passam a exercer uma rebeldia em nome da verdadeira liberdade do espírito humano. São estes que, através desta rebeldia, desta incapacidade de ajustamento, são tocados inicialmente pela dolorosa manifestação do demolidor "Absurdo" e posteriormente, pela benfazeja, suave, calorosa e amorosa Graça".
Não fomos ensinados a voltar nossos olhos para nossa realidade, para nosso mundo interior. Nossa mente foi adestrada para ter olhos apenas para o externo. É justamente essa dolorosa experiência do Absurdo que faz com que nossos olhos voltem-se para o grande vazio, tanto de nossa vida externa, quanto de nosso interior. É aqui que começamos a desenvolver uma outra faze de nossa vida, uma faze mediana, profundamente necessária para uma posterior instalação de uma vida dotada de Vida em abundância. É aqui que passamos a desenvolver um "observador" que observa tanto os fatos externos, quanto nossas reações internas, nossos pensamentos, emoções e sentimentos referentes a tais acontecimentos externos. Se antes, de forma doentia nos identificávamos com aquela personagem, com aquele "eu", agora, nesta faze mediana, passamos a dar muita importância a este "observador", cuja principal ferramenta, é o seu intelecto, que apesar de observado, ainda é condicionado. Através de nossas buscas de respostas, aguçamos nosso intelecto, aguçamos nosso observador. Claro que aqui existem muitos benefícios, uma vez que deixamos de acrescentar dor, conflito e confusão, aquelas já instaladas. Através deste observador, passamos a nos relacionar com os outros de forma mais "controlada", no entanto, ainda vitimados pelas mais variadas formas de resistência. Tornamos grandes "sábios de livrarias e sebos"; passamos a ter um olhar profundamente critico, tanto de nós como daqueles que nos cercam, com os quais, estamos sempre num profundo movimento de medição, de comparação com o conteúdo de nossos fundos psicológicos. Nosso modo de vida se torna ácido. Se antes havia a estagnação servil, aqui se encontra a acidez do intelecto. E o amor, continua a passar longe, continua de nós, um grande desconhecido. É só depois de muita procura, depois de muitos gastos, depois de muitas decepções com pessoas, livros e instituições que prometiam por liberdade e inteireza - e que só foram capazes de aguçar ainda mais o nosso intelecto - que chegamos no momento crucial de toda uma existência sem vida: o momento da rendição ao fato de que o "observador" não pode ser livre por meio de sua "observação", por meio de tudo aquilo que acumulou até aqui para tornar sua vida mais leve e que, ao contrário se mostrou como estafante fardo. É aqui que um milagre acontece: a rendição do não-fazer que nos leva a uma experiência direta e real do Ser. É a partir daqui que a vida ganha seu real brilho e cor e que o homem pode dizer a si mesmo: seja bem vindo à raça humana!
..........Que a Presença, seja!
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..........Nelson Jonas R. de Oliveira
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