O que mais pode ansiar uma pessoa que durante décadas viu-se solitário prisioneiro nas garras de seu próprio intelecto, nas garras de suas próprias mazelas e complexos ocultos, mazelas e complexos estes que lhe privavam do desfrute de uma existência repleta de vida, do querer compartilhar com outros — ainda prisioneiros — deste maravilhoso estado de ser? Pode sentir algum desejo mais profundo do que este de querer compartilhar com os outros deste delicioso ambiente perfumado pela Graça deste Ser que nos faz ser? A julgar pelos meus sentimentos, nada há de mais importante do que facultar, facilitar ao outro a potencialização da consciência disso que ele também já carrega consigo, ainda que de forma totalmente inconsciente. Não há como querer vestir outra camisa, não há como querer essa camisa só para si. Só há o desejo de ver o outro que agora se vê cercado pela frieza do intelecto, agasalhado amorosamente por esta Presença calorosa.
..........As antigas preocupações que antes lhe roubavam o sono e lhe azedavam o espírito, tais como a preocupação com dinheiro, com o sustento, com a necessidade de reconhecimento e aceitação, todas, agora, se apresentam em seu devido lugar, não tendo mais a capacidade de direcionar seus passos. O que agora move os passos de quem é beijado por esta Presença amorosa, é um impulso interno de compaixão, algo leve e feliz, algo que não carrega consigo qualquer expectativa quanto a aceitação ou não por parte daquele a quem lhe oferecida a oportunidade de comunhão. Neste estado de Ser, não é preciso esforço algum para perceber o momento da caminhada do outro, o momento de crescimento do outro. O anseio mais profundo é apenas facilitar que o outro “pegue e faça por si mesmo”, a realidade deste estado de ser. Aqui, a vida ganha outra dimensão; os relacionamentos ganham outra dimensão... É um estado de “estar tudo certo”... Aqui já não ocorre mais a identificação com os monólogos da mente que por décadas se fizeram passado, presente e sombrio futuro. O que a pessoa sente a respeito de como manifestar essa possibilidade de comunhão, ela faz, sempre movida pelo impulso, agora quente, de seu coração. Compartilhar dessa chama que agora queima, que queima sem fumaça e sem deixar cinzas, sem deixar nada pra o intelecto registrar, passa a ser o seu objetivo primordial comum. Tudo isso, com uma certeza que faz parte de cada uma das células de seu corpo: a certeza de que isso só é possível, quando desse contato consciente com esta Presença, com este Ser que nos faz ser. Aqui já não há a mínima preocupação com o modo como os outros possam receber isto, se vão ou não rotular ser loucura, surto psicótico, fanatismo, delírio, algo fora da realidade irreal em que os demais vivem e pensam ser real, nada disso ocupa espaço em seu ser... Isso fica lá com eles!... O que importa é a alegria de perceber a ação dessa presença demolindo no outro as mesmas paredes de intelectualismo no qual um dia também se fez prisioneiro. E aqui, não há pressa alguma de sua parte. Se não vê a possibilidade de somar, se não vê a possibilidade de multiplicar, este permanece em silêncio, sem causar qualquer prejuízo ou divisão além daquele que no outro, até agora, se faz presente.
..........Esse estado de ser, agora ocupa 100% da realidade da pessoa. Tudo é feito e direcionado nesse estado de ser, nesse estado de ser onde todo fluxo obsessivo compulsivo da mente, que antes era tão natural e presente, deixa de existir sem esforço por parte da pessoa. Há a percepção de uma instalação crescente de um estado de bem-estar comum, de serenidade, mesmo em meio das mais triviais e rotineiras ações do dia a dia. O contato com os locais de trabalho e com as pessoas, tomam outra direção, um novo ar agora atravessa as narinas. Tudo que ocorre, ocorre numa outra dimensão, com muito mais força, mas não a força anterior que causava desgaste, mas sim uma força, que em si mesma, é toda beatitude, é tudo de bom.
..........Aqui, nomes e personalidades não levam nenhuma importância. Tudo isto é apenas visto como vasos... O importante, não é mais a qualidade e a origem do vazo, mas sim, o fluxo da água que nele se instala. Quando este estado de ser se instala, a única preocupação, se é que podemos chamar assim, é o devido cuidado para manter o vazo que somos, limpo de qualquer impureza proveniente do intelecto, da mente, com todos seus preconceitos, achismos, juízos e razões. Manter limpo o vazo que somos, para que a água se apresente sempre de forma imaculada. Esse passa a ser o único trabalho necessário. Aqui já não há espaço para os limitantes ciúmes, os limitantes apegos, as limitantes necessidades de reconhecimento e prestígio... Não ocorre mais isso que agora chamo de “recaídas pensamentais”... Tudo agora está no coração, num coração que vibra em direção ao outro, seja lá em que vibração esteja o coração deste outro. Isso é um estado de liberdade de ser, nunca antes imaginada. A beleza de se ver livre do antigo sonambulismo do “pensar saber algo” é algo que não dá para pensar, só dá para se saber, sentindo, sentindo de forma direta. Mesmo sentindo ainda ver em parte, mesmo sentindo ainda não estar totalmente livre das tentativas de identificação por parte da mente, há aqui uma grande leveza de ser, sempre seguida por um anseio de se fazer um com este ser que nos faz ser. É um anseio por ver face a face. Há um sentimento de que se está fazendo parte de um processo de cura, de um processo onde a mente, o ego, encontra-se em convalescênça, para poder se encontrar no estado necessário para poder ser totalmente permeado por esta Presença. Aqui há uma enorme consciência da necessidade de muita paciência, de muita atenção amorosa, muito zelo para consigo mesmo, para com isto que agora se apresenta aqui dentro... Estar atento para não cair nas constantes armadilhas mentais, armadilhas essas como as de querer sempre ter razão, sempre querer dar a última palavra, a armadilha de querer estar sempre monopolizando as situações, sempre no controle, sempre querendo ser o centro das atenções, sempre querendo opinar mesmo ciente de não ter total conhecimento do assunto, tudo isso, aqui, caem por terra... Não há mais a menor disposição de querer entrar em disputas, em querer defender bandeiras, em querer buscar por inimigos externos que possam alimentar a vida de um intelecto livresco. Há uma profunda consciência de que qualquer forma de controvérsia criada pela mente só pode afetar a realização de seu único objetivo primordial: a consumação de um estado de unidade interna, um estado de Unicidade entre mente, coração e este Ser pelo qual somos.
..........Que mais pode querer um sofrido ser humano prisioneiro de uma existência colecionadora de razões, mas totalmente desconhecida do real sentido do que seja a verdadeira liberdade do espírito humano? Aqui, o que é o dinheiro, o poder e o prestigio perto disto?... Aqui, se se tem dinheiro, está tudo bem! Se não tem, está tudo bem também! Se o poder se expressa através disto, é um poder amoroso, não um poder escravagista, aquele poder que corrompe e não comunga. Se existe prestigio, é um prestigio abarcante, um prestigio que aponta para um "pegue e faça você também”, um prestígio que aponta para um “ande logo: seja!". É assim que agora sinto as coisas; não se trata de como eu penso as coisas — não há um pensar sobre isto — há um sentir.
..........Meu amigo, hoje, pela primeira vez em minha vida, sinto que minha vida tem um sentido, uma direção... Uma direção sem direção... Uma bússola sem caminho... Vou para onde o Ser aponta, sem conflito algum, sem oposição alguma, porque sei que nisso, está o bem estar comum. Aqui não há como se ater a busca de privilégios pessoais que limitam o que é de direito coletivo, não mesmo. Aqui, tudo é rico em sua simplicidade; a riqueza maior é a riqueza de se ver simples no colo desse Ser. Não há dinheiro, não há acumulo de propriedade, não há aposentadoria, não há títulos, não poder ou prestigio que faculte isso ao melhor dos intelectos... Não há investimento mais rendoso do que o investimento na consciência de sua Real Natureza... Me sinto totalmente aberto, me sinto totalmente abarcante para quem quiser ser abarcado por isso, por isso que não sou eu, que não é você, mas que, paradoxalmente, sou eu, você e também o outro. Isso é o que agora chamo do encontro dos homens de boa vontade. A boa vontade é se permitir viver os restos dos dias, livre dos umbigóides objetivos, livre dos limitantes compromissos ocupados pelo "o que é meu" e pelo que "que é dos meus". A boa vontade se faz aberta, rumo ao que é univérsico.
..........Aqui, meu amigo, sinto que nada é pessoal, pois nisto, por nós mesmos, nada somos... Aqui, tudo vem pelo Ser e tudo é possível para aquele que se liga nessa calorosa Presença interna, basta para isso, rendição e entrega. Pode parecer complexo o que lhe afirmo — sei bem como isso soa ao intelecto — mas posso lhe afirmar, de todo meu coração, que não há complexidade alguma nisto: tudo é muito, muito, mas muito simples. Só existe complexidade, nos limites de um intelecto viciado. De complexidade, já chega a mente com toda sua masturbação intelectualóide. Quando ocorre essa percepção da simplicidade que lhe falo, não existe mais esse sentido de separação... Toda complexidade deixa de se fazer presente. Aqui, não precisamos mais fazer... Tudo é muito simples, simples porque, agora, é só deixar Ser... É só permitir-se ser livre, leve e solto... Como nos dizeres do poeta, se permitir manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo... O resto, flui por si só. Sabendo disso, lhe pergunto agora:
..........O que você está esperando?
..........Até quando vai ficar sem sentir nada, até quando vai ser saco de pancada de uma mente viciada?
..........Nelson Jonas R. de Oliveira
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