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Como desconhecidos , porém bem conhecidos ; como morrendo , porém vivemos ; como castigados , porém não mortos ; Como entristecidos , porém sempre alegres ; pobres, mas enriquecendo a muitos ; nada tendo , mas possuindo tudo.

Evangelho de : Paulo



domingo, 21 de agosto de 2011

Nós, os homens máquinas




Vivemos conectados a máquinas que nos prometem por mais tempo, tempo este sempre ocupado por outras tantas máquinas que nos roubam cada vez mais a possibilidade de desfrute de tudo aquilo que é natural, que não é produto, que não é resultado do intelecto humano. Nossa vida de relação, por causa de nossa dependência tecnológica, torna-se cada vez mais vazia, virtual e mecânica. Nossa dependência das máquinas está criando um estressado e mesmerizado exército de humanóides, formado por adultos crianças e crianças adultos. Se em tempos de outrora, a qualidade de nossa infância era roubada pelo trabalho precoce, pelas tradições, pelas religiões, pelo culto do respeito castrador à autoridade, hoje a infância de nossas crianças é roubada pelo excesso de informação, com toda carga de mensagens publicitárias expressa de forma desalmada, direta ou subliminarmente. Não bastasse a excessiva exposição à essas mensagens publicitárias, nossas crianças são formatadas por um exaustivo sistema de educação que de modo algum preparam-nas para um modo de vida amorosamente inteligente, onde o mais importante seja a aquisição de tempo para o desfrute presencial da vida de relação com o que é, com aquilo que é natural e, talvez o mais importante, para a capacidade e o gosto de vivenciar momentos de solidão, momentos de ócio, onde dá-se o encontro consigo mesmo e, através deste encontro proveniente do ócio, a percepção que nos leva a abrir mão de tudo aquilo que não é real e que portanto não nos é necessário, fazendo dessa forma, que toda aquela energia outrora gasta com as mais variadas formas de necessidades desnecessárias, seja providencialmente aplicada na manifestação de nosso potencial criativo, de nosso talentos que nos direcionam cada vez mais para nosso mundo interior, que, de forma amorosa, transborda para o mundo exterior, abarcando-o de tal forma que a ilusória sensação de separatividade, deixa de existir. A plasticidade e o sintético toma conta dos locais onde passamos a maior parte das horas de nosso dia. Já não há tempo para o orgânico, para o natural, pois todo tempo deve ser usado para o entregar-se às máquinas que perpetuam o engodo da liberdade capital, o qual nos mantém num estado de sonambulismo hipnótico que faz com que, através da nossa coleção de "tudo bem", de nossos forçados sorrisos, de nossos raros e cada vez mais breves encontros, não tomemos consciência da escravidão estéril em que estamos inseridos. Os poucos valores humanos, válidos de serem alimentados, estão sendo substituídos pelos valores ditados pelas máquinas, valores estes que apontam para a separatista caça de valores completamente distanciados de real valor. Os atuais valores, nos mantém distantes de nós mesmos, dos outros seres humanos e da própria natureza. Vivemos hoje não para a Vida, mas sim para atender, de forma mecânica, as desumanas exigências do sistema capital, com seus empresariado que, através de uma fria lógica racional, apoiada em sagazes estratégias de marketing e acobertada pelo mundo advocatício, feito vampiros, com a ajuda de nossa passividade servil, sugam-nos a vitalidade de nossos dias, que se não fossem os aparatos da moda e da ciência cosmética, nossas aparências estariam muito próximas daqueles zumbis de trillers musicais, cinematográficos Hollywoodianos. Não é nada difícil de se contatar isso. Aqueles que tiverem essa curiosidade, basta darem-se a oportunidade de parar por algum momento dentro de alguma estação de trem ou de metrô e olhar atentamente para o matinal olhar desatento, triste, mecanizado, tecnologicamente distraído da grande maioria dos que por ali, de forma apertada e abarrotada trafegam em direção aos seus locais de trabalho, paralelamente ao inconsciente e também abarrotado fluxo de seu tráfego mental, cujos trilhos são formados por desejos, preocupações, medos, ansiedades, ilusões, ressentimentos, invejas, conflitos e toda forma de confusão. Se não se der por satisfeito com isso, ao final do dia, do lado de fora, junto as escadarias das estações, observe a exaustão nos passos dessas pessoas, o modo cabisbaixo, arcado e pesado com que andam e no automatismo com que logo se entregam à sua dependência tecnológica expressa no uso de seus celulares. As pessoas quase não mais se conversam nas desumanas filas do transporte público coletivo, elas preferem a fuga de sua triste realidade por meio das diversões de balé digital, onde se narcotizam com o empurrar sequencial de imagens. Lembro-me dos tempos de criança, quando, em frente às bancas de jornais, nas praças, pais e filhos se aglomeravam, num real contato físico para a troca das figurinhas de seus coloridos álbuns. Hoje, de forma solitária, trocamos nossas figurinhas com o leve toque de nosso dedo indicativo, mantendo dessa forma, nosso olhar preso num limitado espaço por onde, de forma direta, rápida e não democraticamente recebemos mais e mais impulsos de consumo através das constantes, dinâmicas e animadas mensagens publicitárias, sempre ricas em imagens coloridas e sonoridade, através das quais, as mesmas máquinas direcionam e controlam o impulso de nossas mentes. A caminho de algum lugar nunca antes visitado, não nos damos mais ao trabalho do contato humano, o qual foi trocado pelo colorido GPS. Sem que percebamos, as máquinas a cada dia que passa privam-nos da vida real, que é a vida de relação. Vivemos de modo participativo, direto, uma guerra tecnológica de torpedos repletos de banalidade e infantilidade. Somos controlados através desses torpedos tele-guiados. E assim, o que conta não é a relação com o eco-sistema, mas o sistema, em que não ecoa relação. O que conta é a criação de uma infinidade de contas, que, em última análise, em nada contam. O que conta não é mais o sentar-se em grupo para se compartilhar de histórias e contos que nos encantam; o que conta é se sentar solitariamente - de si e dos outros - e em poucas linhas contar o que nada conta e que nada encanta. Somos anônimos prisioneiros de processadores tecnológicos que em nós processam anônimas dores. E assim, de forma inconsciente, acelerada, cabisbaixa e mecanizada, caminha nossa robótica e triste humanidade de homens máquinas, animadas pelo inconsciente impulso por novas máquinas.

Nelson Jonas R. de Oliveira

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O povo não precisa de liderança, o povo precisa de consciência e tem muita gente fazendo esse trabalho, acadêmicos e não acadêmicos. Eu sei porque eu trabalho em favela muitas vezes e sei que tem muito movimento cultural rolando. Tem muito trabalho de base acontecendo. Ele não aparece e é bom que não apareça, porque se aparecer, o sistema vai lá pra acabar com aquilo. ( Eduardo Marinho )