Mais uma semana se inicia.
A mesma calçada, as mesmas pessoas, o mesmo fluxo de carros, as mesmas conversas desnutritivas.
O mesmo vazio, a mesma incompletude, o mesmo tédio, a mesma mesmice.
Fora o dia, nada de novo, somente as mesmíssimas das tão desgastadas ações.
Os segundos e minutos vão passando, lentamente, fechando horas e dias – enquanto isso – resta-me apenas a observação. Quanto mais observo, menos vejo sentido naquilo que os dias me apresentam.
A superficialidade das alegrias de prateleiras em promoção é sentida como nunca antes.
A consentida disparidade me enoja, bem como os clichês, os chavões, o pré-formatado modus operantis e as monótonas conversas de jornal.
Observo o tagarelante monologo das pessoas de cabeças não pensantes, prisioneiras de consolos e conformismos inconseqüentes e, igualmente, constante monólogo da mente, prisioneira de preocupações com um futuro imaginário, num movimento que insiste me tirar do aqui e agora.
O vazio é o mesmo de sempre – só mudaram as buscas utilizadas para tentar aplacá-lo - e, quanto mais observo, mais as opções se mostram desprovidas de sentido.
Nada acontece... Só o sentimento de impotência.
Em minha volta, pessoas aterrorizadas com a menor possibilidade de lidarem com o próprio vazio, buscam em meio de um sofrimento silencioso, aplacá-lo com o vazio de relacionamentos vazios... Tenho observado que é no vazio que a vida dupla de cada um se apresenta e é nele que se sustentam os maiores auto-enganos. É nele que o medo da solidão cega a razão e obscurece a lanterna dos desesperados.
Eu somente observo.
De que adiantam palavras para aqueles que nem mesmo escutam a si mesmos?
Ou então com aqueles que insistem em comentários sobre o ausente outro?
Nunca ocorre um genuíno encontro durante estes encontros... São meros passatempos desnutritivos... Uma seqüência ilógica de blábláblás que não tem o poder de saciar a fome mais profunda de ser. Um blábládor sempre fala demais por não ter nada a dizer sobre si. No entanto, tenho aprendido como é fácil fazer um blábládor silenciar: basta olhá-lo profundamente na retina (ele sofre de uma espécie de alergia aos olhares de garimpo).
Mas, o grande problema já se encontra explicito na canção: que quem sabe faz a hora, não espera acontecer... A impotência reina aí: eu não sei! Neste novo paradigma, sou como o vazio de um cemitério de crenças. O antigo já não me faz, pois a observação tornou-me um zero. Libertou-me de ser uma fração, uma metade, contudo, só por agora, não me tornou um.
Como é desgastante ser um zero numa terra de meios... E na terra dos meios, as relações com os zeros são sempre fragmentadas e separadas por vírgulas... Sempre existem as restrições...
Continuo a observar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário